Você está demitido!

Mark Morais
A SENTENÇA ERA PRONUNCIADA SEMANALMENTE POR DONALD TRUMP em seu famoso reality show O Aprendiz , no qual uma dúzia de jovens e ambiciosos executivos se digladiavam pela oportunidade de conseguir uma vaga de emprego em uma das empresas do bilionário, que viria se tornar presidente dos Estados Unidos pouco depois. O programa era bastante interessante, e era engraçado descobrir quem seria o candidato eliminado da semana; afinal, pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Mas a frase tem sido usada com muita frequência neste início de ano, e não é em nenhum programa de televisão, mas na vida real. E quem a recebe não acha a situação nada divertida.
Grandes corporações do setor de tecnologia como Google, Amazon e Salesforce, entre outras, anunciaram a redução de seus quadros de empregados; somente no início de 2023, cerca de 70 mil pessoas foram demitidas de empresas de tecnologia. E esta enorme onda de demissões atinge em cheio muitos trabalhadores estrangeiros nos Estados Unidos: provavelmente a maior parte destes trabalhadores tenham chegado ao país portando os vistos H1-B (saiba mais aqui ), O1 (leia aqui) ou L1 (aqui), todos documentos vinculados ao emprego do seu portador.
Todos estes são vistos de não-imigrante e, portanto, temporários (seu prazo geralmente é de 3 anos, prorrogáveis por outros 3). São concedidos mediante solicitação de uma empresa americana (sponsor) e se destinam a funções especializadas que demandam, no mínimo, formação acadêmica de bacharelado ou mestrado, ou alguma habilidade extraordinária, comprovada durante o processo de concessão. O portador de qualquer destes vistos está vinculado à empresa que o patrocina; ele não poderá trabalhar para qualquer outra instituição, a menos que tenha outro visto similar emitido por outra empresa. E, obviamente, se o visto está vinculado à proposta de emprego recebida, extinguindo-se o emprego que deu origem ao visto, a consequência lógica (e trágica) é a extinção do próprio visto em si.
O empregado portador de visto de trabalho que for demitido dispõe de apenas 60 dias para encontrar outro emprego ou se mandar da América, sob pena de se tornar um imigrante ilegal. A situação pode ser desesperadora; basta imaginar alguém que tenha se mudado para os EUA levando toda uma família e, subitamente, se vê na contingência de arrumar as malas e voltar para casa. Pensando nestas pessoas, duas congressistas da Califórnia escreveram uma carta às autoridades da imigração, praticamente implorando para que este período fosse ao menos dobrado, de maneira a permitir que estas pessoas tenham um prazo mais razoável para buscar novos empregos.
A verdade é que ninguém espera ouvir o bordão do Trump (você está demitido!) na vida real, e a maioria dos trabalhadores estrangeiros nos EUA se acomodam com o fato de estarem empregados, mantendo-se em seus cargos aspirando que seu empregador dê início a um processo de green card que nem sempre acontece, ou pode acontecer tarde demais. Afinal, nunca se sabe quando uma empresa sólida vai decidir cortar custos e iniciar um processo de demissão em massa. Porém, como se vê, isto é mais frequente do que se imagina.
Na fábula A Cigarra e a Formiga, de Esopo, as formigas trabalhavam duro estocando alimentos, preparando-se para o inverno, enquanto a cigarra apenas curtia a vida adoidado, cantando e dançando o tempo todo, até que veio o inverno e a pobrezinha passou por maus bocados. Na medida do possível, devemos estar sempre preparados para os dias de inverno; portanto, aconselho a quem se encontra nos Estados Unidos na condição de portador de um visto de trabalho temporário (H1-B, O1, L1, entre outros), que procure o quanto antes uma opção de visto que possa levar ao green card. Existem ótimas opções, como o EB1-A (visto de habilidades extraordinárias, também conhecido como visto Einstein; leia mais aqui) ou o EB2-NIW (destinado a trabalhadores de formação acadêmica avançada ou portadores de habilidades excepcionais; saiba mais aqui ); ambos podem ser solicitados pelo próprio interessado, sem a necessidade de uma oferta de emprego. O próprio fato de terem seus vistos anteriores patrocinados por empresas americanas e estarem contratados já é um bom indício da qualificação destas pessoas; então, nada melhor do que aproveitar a oportunidade e surfar na crista da onda. Antes da chegada do “inverno”.
Se não fizerem isso, correm o sério risco de “dançar” no final da história, como a cigarra da fábula.
Sobre Mark Morais
Mark Morais é advogado de Imigração e proprietário da Mark Morais Law Firm, escritório americano responsável por processos jurídicos de vistos e green cards para os Estados Unidos.
Mark é o único advogado brasileiro-americano que já trabalhou nas 3 principais agências federais de imigração dos EUA (USCIS, CBP e ICE) desempenhando as funções de Promotor de Imigração, Oficial de Asilo Político e Policial Federal de Imigração e Alfândega.
Mark Morais é formado em Direito e Administração de Empresas no Brasil e é Doutor em Jurisprudência nos Estados Unidos. Ele é licenciado para praticar Direito no Estado da Flórida e também na Capital Federal (District of Columbia).