Mark Morais
“GAROTA, EU VOU PRA CALIFÓRNIA / Viver a vida sobre as ondas / Vou ser artista de cinema / O meu destino é ser star…”
A canção De Repente, Califórnia, de Lulu Santos, reflete o sonho de incontáveis brasileiros e, por que não?, de muitos americanos também. Afinal, a costa dourada da Califórnia, com suas ótimas ondas ao longo de um litoral recortado, é sem dúvida um dos lugares mais bonitos do mundo, e os estúdios de cinema de Hollywood atraem jovens de todos os cantos do planeta em busca de fama e fortuna. Porém, as estatísticas mais recentes revelam que “há algo errado no paraíso”, como dizia outra bela música, Fui Eu, essa, dos Paralamas do Sucesso: existe um grande fluxo migratório de pessoas deixando o Golden State, além de outros estados famosos como Nova Iorque. De julho de 2021 a julho de 2022, a Califórnia perdeu 343.230 habitantes para outros estados americanos (a população do estado parou de crescer pela primeira vez em quase dois séculos!); Nova Iorque, 299.557; e Illinois, 141.656. Do outro lado da balança, a minha amada, e não menos ensolarada Flórida, recebeu, no mesmo período, mais 318.855 novos moradores, e o meu querido Texas, mais 230.961 pessoas. E, para piorar, o êxodo não se restringe às pessoas: muitas grandes empresas estão rumando para o Texas; só no ano passado, a Oracle e a Hewlett-Packard (a famosa HP, considerada a pioneira do Vale do Silício) se instalaram no estado da Estrela Solitária, e o polêmico bilionário Elon Musk, terceiro homem mais rico do planeta, dono da Tesla, Twitter e SpaceX, entre outras, já está fazendo o mesmo, partindo de mala, cuia e empresas: vendeu suas quatro mansões em terras californianas e se mudou para Austin, a simpática capital texana, onde está construindo a nova sede da Tesla, sua montadora de carros elétricos. Musk declarou considerar a Califórnia atualmente um estado “burocrático e inimigo do empreendedorismo”.
E o buraco pode ser ainda maior e mais fundo: segundo pesquisa do Instituto de Estudos Governamentais de Berkeley, 52% dos californianos estão pensando em se mandar para outras paragens. Existem algumas razões para explicar esse êxodo; abaixo, listamos algumas, não necessariamente em ordem de relevância:
Preços dos imóveis. Morar na Califórnia não é nada barato; mas, especialmente nos últimos anos, em decorrência da pandemia do coronavírus, os preços dos imóveis dispararam: o valor médio das casas na famosa cidade de San Francisco, por exemplo, gira em torno de assombrosos um milhão e quinhentos mil dólares! Cálculo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) aponta que o custo de moradia na Califórnia é 60% maior que no vizinho Texas. Em Nova Iorque, o aluguel médio custa 4.000 dólares, garantindo à Big Apple o título de segunda cidade mais cara do mundo para se morar, atrás apenas de Hong Kong.
Taxa de impostos. Como os Estados Unidos são uma federação, cada estado tem autonomia para fazer suas leis (obviamente, dentro de um arcabouço comum), inclusive no que diz respeito aos impostos. E a Califórnia tem um dos impostos mais altos do país (8,82% sobre a venda de produtos e serviços), juntamente com –adivinhe: Illinois (8,83%) e Nova Iorque (8,52%). Por outro lado, alguns estados como Delaware, Montana e Oregon, não cobram esse tipo de imposto, e outras unidades da federação aplicam taxas bem mais brandas, como o Alaska (1,76%) e Havaí (4,44%).
Last, but not least, ideologia. Deixei este item por último, mas, como disse acima, esta não é uma ordem por relevância; se fosse assim, talvez este item fosse o primeiro da lista. Aliás, boa parte dos outros problemas, inclusive os altos impostos e custos de moradia, decorrem deste último. Em um detalhe nada irrelevante, a maioria dos estados onde os impostos são mais altos e existe uma forte regulação do mercado, vêm sendo governados pelo Partido Democrata (não por coincidência, Califórnia, Nova Iorque e Illinois), o partido esquerdista americano; na outra ponta, os estados com mais liberdade econômica, menos impostos e moradias mais baratas, ou seja, com custo de vida mais acessível, os governos são do Partido Republicano, de direita. Durante a pandemia do coronavírus, por exemplo, enquanto o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, impunha aos seus governados um rígido lockdown, seu congênere texano, o republicano Greg Abbott, mesmo reconhecendo a importância da vacina, proibiu que qualquer entidade pública ou privada impusesse a vacinação obrigatória. Da mesma forma, o governador do Sunshine State, Ron Desantis, disse “Lockdown? Aqui, não!!”. Portanto, o ambiente empresarial no Texas e Flórida, com baixos impostos, isenções e praticamente livre de regulamentação, dentro do conceito do Partido Republicano de não interferência do Estado, favorece a atividade produtiva (a Apple está construindo no Texas seu segundo maior campus, ao custo de um bilhão de dólares), propiciando a geração de empregos e melhorando a qualidade de vida; o PIB do Texas alcançou impressionantes 1,9 trilhão de dólares, cem bilhões a mais que o do Brasil inteiro, nona maior economia do mundo!
A ideologia de esquerda dominante na Califórnia e Nova Iorque, entre outros, tem cobrado um preço altíssimo de suas populações: crescimento do número de moradores de rua, aumento significativo do uso de drogas, apagões, aprovação de leis que facilitam o cometimento de crimes de furto em lojas, restrição ao uso de armas. Além disso, as políticas públicas para combater as desigualdades (como programas para ajudar as pessoas de baixa renda a pagarem seus aluguéis) e auxílio a imigrantes ilegais custam bilhões de dólares aos pagadores de impostos.
Assim, californianos, nova-iorquinos e outros americanos de estados governados pela esquerda, cansados de bancar o assistencialismo e de suportar as políticas “progressistas” que vêm deteriorando sua qualidade de vida, pesando fortemente em seus bolsos e dilapidando seu patrimônio, estão migrando em direção a estados como o Texas e a Flórida, onde o american way of life, o estilo de vida americano, permanece mais fiel aos ideais dos “Pais Fundadores”, com o respeito aos direitos e garantias de todos e a manutenção das liberdades individuais.
Ou seja, o sonho americano original.
Sobre Mark Morais
Mark Morais é advogado de Imigração e proprietário da Mark Morais Law Firm, escritório americano responsável por processos jurídicos de vistos e green cards para os Estados Unidos.
Mark é o único advogado brasileiro-americano que já trabalhou nas 3 principais agências federais de imigração dos EUA (USCIS, CBP e ICE) desempenhando as funções de Promotor de Imigração, Oficial de Asilo Político e Policial Federal de Imigração e Alfândega.
Mark Morais é formado em Direito e Administração de Empresas no Brasil e é Doutor em Jurisprudência nos Estados Unidos. Ele é licenciado para praticar Direito no Estado da Flórida e também na Capital Federal (District of Columbia).