Mercado de Trabalho Aquecido

Mark Morais
MERCADO DE TRABALHO AQUECIDO
SEGUNDO REPORTAGEM DO NY TIMES, o mercado de trabalho americano está aquecido, mas esfriando. O grande enigma a ser desvendado é “quão quente ele está, ou quão rápido vai esfriar”. A questão é crucial para que as autoridades monetárias do país estabeleçam políticas de controle da inflação sem causar recessão. Segundo os dados atuais, o mercado de trabalho se encontra tremendamente forte atualmente, e apenas recentemente começou a esmorecer. Por outro lado, é bastante grande o número de trabalhadores que abriram mão espontaneamente de seus empregos nos últimos tempos.
De acordo com Ben Casselman, repórter de Economia do NYT, o maior problema a ser enfrentado nesse momento é a alta de preços, motivada por fatores diversos como a pandemia de Covid-19 e a invasão da Ucrânia; porém, a demanda excessiva também responde pelo aumento da inflação: os americanos estão em busca de mais carros, passagens aéreas e outros bens de consumo, pressionando os preços para cima. Para conter essa tendência, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, vem aumentando a taxa de juros; já fez isso quatro vezes desde junho. Esta política deve depender de como o mercado vai se comportar. Caso as empresas continuem a oferecer empregos e aumentar os salários, a inflação deverá continuar em alta, e o Fed deverá manter sua política de juros; caso o crescimento de empregos estacione e o desemprego aumente, o Fed pausará sua estratégia para evitar uma recessão. Até agora, segundo Casselman, o Fed parece acreditar que o mercado de trabalho está “aquecido demais”. Para se ter uma ideia, desde o ano passado, existem duas vezes mais vagas de emprego do que trabalhadores disponíveis para preenchê-las. A lógica do negócio é basicamente a seguinte: uma vez que a demanda está alta, as empresas precisam contratar para produzir mais: havendo alta oferta de empregos, as empresas precisam aumentar os salários –e, com isso, a inflação- para atrair os profissionais de que precisam. Até agora, não há indícios significativos de que o aumento na taxa de juros tenha feito diminuir a oferta de empregos; até porque, para alguns economistas, outros indicativos, como a taxa de desempregados, mostra que o mercado de trabalho não estaria assim tão forte.
A GRANDE RENÚNCIA
A pandemia de Covid que assolou o mundo em 2019 gerou um fenômeno chamado pelos especialistas de “great resignation”, ou a “grande renúncia”: milhares de trabalhadores americanos abriram mão de seus empregos durante o período de confinamento. Contudo, a maioria não fez isso para ficar em casa sem trabalhar, mas para ocupar outro emprego, geralmente melhor remunerado; ou para trabalhar remotamente, no modelo chamado “home office”. Os pedidos de demissão são vistos pelos economistas como um sinal de confiança: afinal, ninguém deixa seu emprego se não tiver a segurança de que encontrará algo melhor pela frente –na maioria dos casos, as pessoas só fazem isso quando já encontraram outro emprego melhor remunerado. Portanto, geralmente a mudança de emprego acarreta no aumento de salários. No final de 2020 e início de 2021, observou-se que as taxas de abandono de emprego e abertura de vagas cresceram praticamente iguais; porém, o número de pessoas se demitindo começou a diminuir, enquanto a oferta de empregos continuou a subir. Os americanos continuam a mudar de emprego mais rapidamente do que faziam antes, mas agora, nem tanto.
Enquanto os especialistas quebram a cabeça para desvendar o curioso momento econômico que os Estados Unidos passam e, consequentemente, prever o que acontecerá em seguida, o fato incontestável é o seguinte: ainda estão sobrando vagas de trabalho. Muitas vagas. Ou seja, tudo indica que, enquanto, no Brasil, a incerteza sobre o futuro da economia do país depois da eleição de Lula (outros países latino-americanos que elegeram recentemente governos de esquerda estão sofrendo agudas crises econômicas), nos Estados Unidos ainda é possível conseguir um bom emprego.
Portanto, caro leitor, pode ser o caso de começar a pensar uma mudança de ares…
Mark Morais
Mark Morais é advogado de Imigração e proprietário da Mark Morais Law Firm, escritório americano responsável por processos jurídicos de vistos e green cards para os Estados Unidos.
Mark é o único advogado brasileiro-americano que já trabalhou nas 3 principais agências federais de imigração dos EUA (USCIS, CBP e ICE) desempenhando as funções de Promotor de Imigração, Oficial de Asilo Político e Policial Federal de Imigração e Alfândega.
Mark Morais é formado em Direito e Administração de Empresas no Brasil e é Doutor em Jurisprudência nos Estados Unidos. Ele é licenciado para praticar Direito no Estado da Flórida e também na Capital Federal (District of Columbia).