Enquanto o exterminador do futuro não vem
Mark Morais
NO ÓTIMO FILME “O EXTERMINADOR DO FUTURO”, a humanidade foi praticamente dizimada pela Skynet, uma inteligência artificial que ficou inteligente demais para continuar submissa aos fracos humanos e, depois de invadir os sistemas de defesa dos Estados Unidos e provocar uma hecatombe nuclear que dizimou quase toda a raça humana, criou um exército de robôs para exterminar os poucos de nós que restaram. Apesar do alarmismo de alguns com a Inteligência Artificial, ela já deixou de ser o vilão de filmes de ficção científica e se encontra entre nós, sendo largamente utilizada atualmente, nos algoritmos de busca da internet, nos aplicativos de rotas (Google Maps e Waze, por exemplo) nas Smart TVs, nos assistentes virtuais (Alexa e Siri) nos carros autônomos, nos videogames e na análise de big data, na criação de textos e telas artísticas, entre inúmeros outros usos. É claro que toda nova tecnologia implica em mudanças no mercado de trabalho, e muitas profissões simplesmente deixaram de existir com o avanço tecnológico: acredite, houve um tempo em que existiram telefonistas, datilógrafos, atores e atrizes de rádio e até acendedores de postes!
Mas, enquanto a Inteligência Artificial (IA) ainda não ficou esperta o bastante para dominar o mundo, ela vai gerando excelentes oportunidades de trabalho: em 30 de outubro deste ano o Presidente Joe Biden assinou uma Ordem Executiva disciplinando o “desenvolvimento e uso seguro, protegido e confiável da inteligência artificial” e reconhecendo o “papel significativo de imigrantes, estudantes internacionais e portadores de vistos de trabalhador temporário altamente qualificado” na área de IA.
Baseada em dados que apontam a prevalência de estrangeiros nas atividades ligadas à IPA (65% das maiores companhias americanas de IA foram fundadas ou co-fundadas por imigrantes, e 70% dos estudantes envolvidos nos campos de IA são estrangeiros, segundo estudo da National Foundation for American Policy), a Ordem Executiva estabelece que as autoridades competentes deverão tomar medidas para “agilizar os tempos de processamento de vistos, petições e solicitações, inclusive garantindo a disponibilidade oportuna de agendamentos de vistos, para não-cidadãos que desejam viajar para os Estados Unidos para trabalhar, estudar ou conduzir pesquisas em IA ou outras tecnologias críticas e emergentes”.
A Ordem Executiva deixa evidente a pressa do governo Biden em tentar assumir a dianteira no desenvolvimento e utilização da Inteligência Artificial em favor da “segurança, economia e sociedade” americanas. Ciente de que os processos de contratação de estrangeiros por empresas americanas através de ofertas de trabalho e certificação laboral podem levar anos, o que seria fatal para uma área de avanços rápidos como a tecnologia, o governo americano quer incentivar os vistos EB2-NIW, EB1 (ambos self-petition, ou seja, o próprio profissional pode requerer o visto) e O1 (a própria empresa do imigrante pode patrocinar a sua vinda) para acelerar a captação desses profissionais.
Em nossa firma de Advocacia, especializada em Imigração, já temos percebido uma rápida movimentação neste sentido, conseguindo aprovações de vistos para profissionais das áreas de STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) em tempo recorde, mesmo sem o pagamento do premium processing, a taxa para atendimento prioritário; além disso, os contatos de retorno do NVC após a aprovação do formulário I-140, que levavam meses, estão demorando poucas semanas.
As medidas determinadas pela Ordem executiva estabelecem prazos curtos para sua implementação e incluem, entre outras:
– No prazo de 90 dias:
Agilizar os tempos de processamento dos pedidos de visto para trabalho, estudo ou pesquisa em IA ou outras tecnologias emergentes;
Facilitar a marcação de vistos em volume suficiente para requerentes especializados em IA;
– No prazo de 120 dias:
Considerar a implementação de um programa nacional de renovação de vistos para facilitar permanência nos EUA de candidatos qualificados em IA para continuidade de seu trabalho sem interrupções desnecessárias;
– No prazo de 180 dias:
O Secretário de Segurança Nacional deve revisar e iniciar quaisquer mudanças políticas que determine necessárias e apropriadas para esclarecer e modernizar as vias de imigração para especialistas em IA e outras tecnologias críticas e emergentes, incluindo não-cidadãos de vistos O-1A e EB-1 de capacidade extraordinária; E titulares de diploma avançado EB-2 e profissionais de capacidade excepcional
Considerar criar uma regulamentação para expandir as categorias de não-imigrantes que se qualificam para o programa de renovação de visto doméstico coberto pelo 22 C.F.R. 41.111(b) para incluir acadêmicos de pesquisa J-1 e estudantes F-1 em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM); e
Criar um programa para identificar e atrair os melhores talentos em IA e outras tecnologias críticas e emergentes em universidades, instituições de pesquisa e no setor privado no exterior.
Estas são apenas algumas das medidas elencadas na Ordem Executiva, e os prazos curtos que ela estabelece para sua efetiva implementação demonstram o elevado grau de prioridade que a administração de Joe Biden tem dado a esta área de atuação.
É pouco provável que a Inteligência Artificial se rebele contra a Humanidade e domine o planeta; por outro lado, é bastante possível que algumas ocupações profissionais desapareçam com o tempo, substituídas pelo trabalho dos computadores e robôs, como já aconteceu com determinadas profissões. Somente o futuro demonstrará isso.
Até lá, devemos usar a Inteligência Artificial a nosso favor; afinal ela pode ser uma excelente oportunidade de conseguir o tão desejado green card!
Sobre Mark Morais
Mark Morais é advogado de Imigração e proprietário da Mark Morais Law Firm, escritório americano responsável por processos jurídicos de vistos e green cards para os Estados Unidos.
Mark é o único advogado brasileiro-americano que já trabalhou nas 3 principais agências federais de imigração dos EUA (USCIS, CBP e ICE) desempenhando as funções de Promotor de Imigração, Oficial de Asilo Político e Policial Federal de Imigração e Alfândega.
Mark Morais é formado em Direito e Administração de Empresas no Brasil e é Doutor em Jurisprudência nos Estados Unidos. Ele é licenciado para praticar Direito no Estado da Flórida e também na Capital Federal (District of Columbia).